Rihanna e a Fenty Savage
- Mani Milani
- 10 de jun. de 2022
- 4 min de leitura
Existem alguns padrões de comportamento que são detectáveis na jornada de Perséfone, o caminho para o seu desenvolvimento está relacionado ao amadurecimento e separação da garota que existe dentro dela, por isso pode ser uma de suas tarefas tomar posse de sua própria sexualidade.
“Uma iniciação sexual que põe a mulher em ligação com a própria sexualidade é um potencial do arquétipo de Perséfone compatível com a mitologia. Uma vez que Perséfone era rainha do inferno ela possuía uma conexão ou um laço com Afrodite (...) Perséfone é uma sexualidade mais introvertida ou dormente.” Jean Shinoda
Algumas mulheres Puras, aquelas que tem o arquétipo de Perséfone dominante, podem sofrer com a repressão da própria sexualidade aprisionadas no papel de garotinha indefesa em cativeiro. Por isso, é interessante perceber que Rihanna tenha escolhido ter uma marca de lingerie que comunica claramente uma tônica de libertação da sexualidade.
Se preferir pode assistir ao vídeo deste estudo de caso aqui:
A descida ao inferno de Rihanna
Rihanna viveu um relacionamento abusivo, no período em que namorou Chris Brown observamos Riri em seu estágio Coré. Ela já era uma popstar nessa época, mas não tinha controle sobre a própria vida, estava sob o gerenciamento de sua equipe, empresários e coaches.
O episódio violento com o rapper foi provavelmente a gota d’água que a fez adentrar o fundo do poço. A partir daí a cantora experienciou não apenas a sua própria confusão interna de amar e proteger alguém que a agredia e todos os desagradáveis sentimentos que surgem dessa experiência, como também provou os sentimentos de humilhação e super exposição que aconteceram depois que seu caso foi exposto na mídia.
“Aconteceu comigo em frente ao mundo todo, foi embaraçoso, humilhante e dolorido, não foi fácil. Eu perdi meu melhor amigo, tudo que eu conhecia como realidade mudou em uma noite e eu não podia controlar isso. Não foi fácil para eu compreender ou interpretar isso. Especialmente não é fácil de interpretar com o mundo assistindo.
Foi um lugar estranho e confuso de estar porque por mais brava e ferida que eu estava, me sentindo machucada e traída, naquele momento, minha maior preocupação era com ele, proteger ele.” Rihanna

Eu extraí e traduzi esse texto de uma entrevista para Oprah Winfrey, porque penso que resume todos os pontos infernais da jornada de uma Coré que vive a codependência e o relacionamento abusivo. No caso de Rihanna, a experiência de dor e consequente transformação partiu de um traumático relacionamento.
Savage Fenty
eu período de escuridão, perda e exposição pública forçaram nossa badgal a crescer rapidamente e acompanhando sua história, vemos que ela saiu dessa triunfante, passou de uma celebridade para uma mulher de negócios poderosa e bem sucedida com a sua marca de cosméticos e vestuário.

Hoje ela mostra total controle sobre sua carreira e sua imagem, podemos perceber como ela está totalmente integrada com sua identidade, manteve a receptividade e empatia da Coré, a criatividade e o charme de garota, porém com completo acesso a outra face desse arquétipo, a rainha sábia que é autoridade máxima em sua própria vida.
Analisando sua marca de lingeries Savage Fenty percebo muitas características de Perséfone, a começar pela empatia, Rihanna tem o desejo de incluir todas por isso construiu uma marca fundamentada na multiplicidade, ela expõe em suas campanhas os mais diversos biotipos e perfis e tem como lema que toda mulher em todo lugar será incluída. (“so that women everywhere would be included”)
Rihanna construiu essa e suas outras marcas em parceria com o maior conglomerado de moda e luxo do mundo, a LVMH. Associando-se a essa marca forte, Rihanna é capaz de levar sua visão de mundo e sua mensagem para atingir pessoas ao redor do globo. Também é sua capacidade de enxergar as coisas sob a perspectiva do outro que lhe permite construir parcerias fortes.
A visão dela para com seus produtos também reflete esse arquétipo:
“Os produtos estão lá como ferramenta de diversão. O cuidado com a imagem nunca deve ser percebido como pressão ou ferramenta de conformidade. Sinta-se livre para arriscar, experimentar e ousar fazer algo novo ou diferente”, diz o site.
Em apenas uma frase conseguimos perceber descrita a garota brincalhona que escolheu assumir os riscos embutidos em seu processo de busca da própria identidade.
Imagens que comunicam
A começar pelo nome Savage (selvagem), essa palavra remete aos instintos. Analisando a comunicação da marca percebo muita força e também revelia. Uma insubordinação do bem, como a adolescente rebelde que amadureceu e usa sua força de oposição como ferramenta de libertação para si e para os outros. Como se sua imagem abrisse caminho para outras.
“As pessoas têm um gingado diferente quando não temem. Parecem mais calmas, sábias, resilientes e aparentam uma força interna, como se sentissem mais confortáveis em assumir riscos. Essas pessoas se tornam muito sedutoras porque podemos perceber uma energia diferente, um ar de coragem.” Ayesha Faines
Agora minha parte favorita, a análise visual, vou mostrar para vocês como vejo Perséfone comunicada na marca, através de seu Instagram:
E falando em sedução destemida esse é o primeiro elemento que me salta aos olhos, desde a expressão autoconfiante no rosto das modelos, também a expressão corporal que carrega um senso de orgulho até a escolha de materiais para os produtos como tiras e recortes que remetem a uma expressão de sexualidade mais selvagem, talvez por carregarem um pouco do imaginário fetichista.
Achei interessante também a utilização de símbolos opostos, ao mesmo tempo que vemos recortes e tiras nos produtos também podemos perceber a comunicação de elementos mais sutis e delicados como flores, xadrez vichy e babados. Seriam as duas faces de Perséfone?
Também vemos a multiplicidade de biotipos e histórias reforçando a missão de Rihanna de incluir. Muitas referências do lado doce da garota, a expressão de algumas modelos, o brilho usado nas maquiagens, franjinhas, as flores e cores claras usadas para criar uma ambiência sutil.
Quando a Rihanna aparece normalmente é um retrato feito de baixo para cima, o que causa a sensação de que ela é maior, atribuindo a imagem um senso de poder.
Parabéns para essa badgal superstar que saiu renascida das cinzas e hoje inspira mulheres a se conectarem com sua própria sensualidade de maneira inclusiva, criativa e autêntica.
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